Nível dos palestrantes e conteúdo acessível e relevante estão entre os pontos altos do evento, que trouxe como tema central as mudanças climáticas mundiais e seus impactos no setor
A pauta global da vitivinicultura está intimamente ligada às mudanças climáticas e os impactos que este tipo de evento traz para o setor no mundo todo, independente do terroir. Mais atual do que nunca, o assunto foi o tema central do 1º Enomeeting Internacional de Conceptwine – Desbravando Vinhos e Vinhedos, realizado entre os dias 29 e 31 de agosto, no Boulevard Convention Vale dos Vinhedos. Cerca de 170 profissionais da cadeia produtiva da uva e do vinho se reuniram em torno de uma intensa programação, entre enólogos, agrônomos, sommeliers, viticultores, vinicultores, estudantes, especialistas e até curiosos. Promovido pela Conceptwine, o evento contou com o apoio da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) e da Associação Brasileira de Enologia (ABE), e já anuncia próxima edição em 2026.
À frente da organização, os sócios Edegar Scortegagna e André Mallmann, enólogo e sommelier, respectivamente, que acumulam a expertise de terem formado mais de 1.000 alunos em seis anos de atuação da Conceptwine, comemoram o sucesso desta primeira edição. “Atingimos nossos objetivos de disseminar o conhecimento em prol do desenvolvimento do setor, de divulgar a nossa escola e também a nossa charcutaria Gran Nero. Três finalidades alcançadas com êxito não apenas pelo número de pessoas envolvidas, mas principalmente pelo perfil do público, engajado com o setor em diversas frentes”, celebra Scortegagna. Mallmann destaca, ainda, o feedback dos participantes que consideraram os palestrantes de alto nível. “Técnicos, mas ao mesmo tempo didáticos, os especialistas conseguiram compartilhar conteúdo de um jeito fácil de ser compreendido, o que foi aprovado por todos”, ressalta.
O tema central foi o grande catalizador entre os participantes que, mesmo sendo de cidades e empresas diferentes, tinham em comum o mesmo interesse pelo assunto justamente por interferir em suas práticas profissionais. Em relação a isso, Scortegagna relata que a realidade mostra uma prática cada vez mais voltada ao vinhedo, apostando em diferentes variedades, em técnicas inovadoras de manejo do vinhedo e a sistemas de condução. “Ouvimos isso de diversos especialistas, de diferentes países. Todos comungam das mesmas práticas como formas de atuar para diminuir os impactos que as mudanças climáticas têm gerado na uva e, por consequência, nos vinhos e espumantes”, explica. Os eventos climáticos intensificados nos últimos anos e que têm mudado a realidade de lugares e culturas, interferindo no mundo do vinho, são inevitáveis e vêm sendo sentidos em países produtores do Velho e do Novo Mundo. Toda esta influência e tendências identificadas por estudiosos no assunto foram amplamente debatidos nos três dias do evento. A Delegada Científica Brasileira na OIV, Doutora em Biotecnologia, Fernanda Spinelli, abriu a agenda alertando para dados do último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que destaca, entre outros pontos, que a temperatura média da superfície da terra pode aumentar até 4°C nos próximos 80 anos, caso não sejam tomadas medidas eficazes a nível global para mitigar os danos causados pelas mudanças climáticas. “Com esta vulnerabilidade, observamos vinhos mais alcoólicos diante de uma maior concentração de açúcares fermentáveis nas uvas, além de pH mais alto e maior suscetibilidade à contaminação microbiológica. Por outro lado, regiões frias, que no passado não se conseguia cultivar uvas, estão se tornando aptas para a prática. Os próximos anos exigirão estudos quanto a castas resistentes a secas, porta-enxertos alternativos, reutilização de água, e o uso mais intensivo de práticas sustentáveis, desde o vinhedo até a saída da garrafa selada na adega”, salienta Fernanda.
Congressistas de 14 estados brasileiros, além do Distrito Federal, aproveitaram a oportunidade única de estar frente a frente com grandes nomes e beber de seus conhecimentos. Foram 25 horas de muito conteúdo, troca de informações e conhecimento técnico, com tradução simultânea, reunindo especialistas da Argentina, Brasil, Chile, Espanha, França, Itália, Portugal e Uruguai. Também foram realizadas degustações.
Os temas e seus palestrantes
OIV e Mudanças Climáticas: Desafios e Recomendações para a Vitivinicultura Global (Fernanda Spinelli – Brasil)
Vinho de inverno com uso da dupla poda: porque, onde e quando utilizar? (Murillo de Albuquerque Regina – Brasil)
Cortiça e vinho: fusão de tecnologia e natureza (Pedro Felix – Portugal)
Mudanças climáticas: o uso da biotecnologia como estratégia de adaptação para vinificação (Fernando Cordova Arellano – Chile)
Situação da vitivinicultura Argentina frente as mudanças climáticas (Claudia Inés Quini – Argentina)
Vinhos moscatos e espumantes moscatéis: seus aromas e sua evolução (Ângela Rossi Marcon – Brasil)
Incidência e estratégias de manejo de insetos pragas na viticultura em função das mudanças climáticas (Marcos Botton – Brasil)
Influências e tendências do campo climático na viticultura moderna (Rene Vasques – Chile)
Fenômenos de oxidação em barrica (Andrei Prida – França)
Os aromas e os polifenóis na Enologia atual (Eduardo Boido – Uruguai)
As variedades resistentes ao oídio e a peronospora: Análise e Gestão Enológica (Tomas Roman – Itália)
Penédes: O que o nosso terroir nos inspira, viticultura única no seu melhor e adaptação à nossa realidade climática (Jaume Gramona Marti – Espanha)
Fotos: Jeferson Soldi
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